sábado, 14 de agosto de 2010


O SALTO



A gente não tem como saber se vai dar certo. Talvez, lá adiante, haja uma mesa num restaurante, onde você mexerá o suco com o canudo, enquanto eu quebro uns palitos sobre o prato -- pequenas atividades às quais nos dedicaremos com inútil afinco, adiando o momento de dizer o que deve ser dito. Talvez, lá adiante: mas entre o silêncio que pode estar nos esperando então e o presente -- você acabou de sair da minha casa, seu cheiro ainda surge vez ou outra pelo quarto –, quem sabe não seremos felizes? Entre a concretude do beijo de cinco minutos atrás e a premonição do canudo girando no copo pode caber uma vida inteira. Ou duas.
Passos improvisados de tango e risadas, no corredor do meu apartamento. Uma festa cheia de amigos queridos, celebrando alguma coisa que não saberemos direito o que é, mas que deve ser celebrada. Abraços, borrachudos, a primeira visão de seu necessaire (para que tanto creme, meu Deus?!), respirações ofegantes, camarões, cafunés, banhos de mar – você me agarrando com as pernas e tapando o nariz, enquanto subimos e descemos com as ondas -- mãos dadas no cinema, uma poltrona verde e gorda comprada num antiquário, um tatu bola na grama de um sítio, algumas cidades domesticadas sob nossos pés, postais pregados com tachinhas no mural da cozinha e garrafas vazias num canto da área de serviço. Então, numa manhã, enquanto leio o jornal, te verei escovando os dentes e andando pela casa, dessa maneira aplicada e displicente que você tem de escovar os dentes e andar ao mesmo tempo e saberei, com a grandiosa certeza que surge das pequenas descobertas, que sou feliz.
Talvez, céus nublados e pancadas esparsas nos esperem mais adiante. Silêncios onde deveria haver palavras, palavras onde poderia haver carinho, batidas de frente, gritos até. Depois faremos as pazes. Ou não?
Tudo que sabemos agora é que eu te quero, você me quer e temos todo o tempo e o espaço diante de nossos narizes para fazer disso o melhor que pudermos. Se tivermos cuidado e sorte – sobretudo, talvez, sorte -- quem sabe, dê certo? Não é fácil. Tampouco impossível. E se existe essa centelha quase palpável, essa esperança intensa que chamamos de amor, então não há nada mais sensato a fazer do que soltarmos as mãos dos trapézios, perdermos a frágil segurança de nossas solidões e nos enlaçarmos em pleno ar. Talvez nos esborrachemos. Talvez saiamos voando. Não temos como saber se vai dar certo -- o verdadeiro encontro só se dá ao tirarmos os pés do chão --, mas a vida não tem nenhum sentido se não for para dar o salto.

Frases de As Pontes de Madison

Lembro-me de suas palavras e até respeito seus sentimentos...talvez você tivesse razão: eu simplesmente não sei. Sei que descer o caminho de minha casa naquela manhã quente, foi a coisa mais difícil que já fiz ou jamais terei de fazer... Na verdade, duvido que alguem já tenha feito qualquer coisa mais difícil que aquilo.
Em minha imaginação,em manhãs ou tardes enevoadas, com o sol brincando nas àguas do noroeste, tento pensar onde você poderia estar e o que estaria fazendo enquanto penso em você.

Não gosto de sentir pena de mim mesma,eu não sou assim...e durante a maior parte do tempo, não me sinto assim. Ao contrário, sinto-me agradecida por ao menos ter encontrado você. Poderíamos ter passado um pelo outro numa cintilação,como duas partículas de poeira cósmica.

Deus ou o universo,ou seja o que for que se escolha para rotular os grandes sistemas de equilibrio,e ordem,não reconhece o tempo terrestre.

Para o universo,quatro dias,não são diferentes de quatro bilhões de anos luz...tento manter isto em mente.

Mas eu sou, a despeito de tudo uma mulher.E todas racionalizações filosóficas que possa evocar não evitam que eu o queira,a cada dia,a cada momento,com o lamento impiedoso do tempo, tempo que jamais poderei passar com você. Amo-o profundamente e completamente...entenda-se.....


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